A morte do pioneiro do jornalismo científico da Espanha, Manuel Calvo
Hernando, aos 88 anos, no dia 16, em Madri, lembra importante ciclo de
incentivo à divulgação da ciência na imprensa da América Latina, com
especial destaque para o Brasil.
Calvo Hernando ajudou a criar, em países da América Central e do Sul,
associações de jornalismo científico, visando despertar o interesse das
novas gerações para a divulgação da ciência.
Bacharel em direito, não exerceu a advocacia, preferindo a atividade de jornalista nas páginas do diário “Ya”.
Esteban Cobo – 13.set.98/Efe |
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O jornalista científico espanhol Manuel Calvo Hernando, que morreu aos 88 anos em Madri |
Em 1955, ao cobrir a 1ª. Conferência Mundial de Usos Pacíficos da
Energia Atômica, organizada pela ONU, em Genebra, descobriu a ciência e a
importância de tornar acessível à maioria o conhecimento de uma
minoria, como dizia em suas palestras.
Desde então, até mesmo quando assumiu o cargo de subdiretor do jornal, continuou a escrever sobre ciência.
Como pioneiro do jornalismo científico espanhol, dizia que o
conhecimento dos avanços da ciência e da tecnologia pela população a
ajudaria a decidir sobre seu futuro.
Em 1969, iniciou uma série de cursos e palestras na América Latina
quando, em colaboração com o venezuelano Aristides Bastidas, fundou a
Associação Ibero-Americana de Jornalismo Científico.
Em 1970, a convite do professor José Marques de Melo, ministrou curso
na Escola de Comunicações Culturais da USP, cujas lições, destaca
Marques de Melo, “foram basilares para a aprendizagem e o exercício
crítico do jornalismo científico”.
Calvo Hernando incentivou a fundação da Associação Brasileira de
Jornalismo Científico, criada em 1978. Graças ao seu empenho, São Paulo
foi sede, em 1982, do 4º. Congresso Ibero-Americano de Jornalismo
Científico, realizado concomitantemente com o 1º. Congresso da ABJC.
A repercussão dos congressos resultou, na década de 80, no surgimento
de editorias de ciência e tecnologia nos principais jornais do país.
Há dez anos, durante o 1º. Congresso Internacional de Divulgação
Científica realizado na USP pelo Núcleo José Reis e pela Associação
Brasileira de Divulgação Científica, proferiu sua
última conferência no Brasil, quando analisou os desafios ligados à ética na divulgação científica.
Em um dos cursos que ministrou na Espanha, um aluno perguntou sobre
as qualidades necessárias para ser jornalista científico. Respondeu: “Em
primeiro lugar, deve ser jornalista e conhecer o ofício. Depois, deve
ter amor especial ao conhecimento e uma curiosidade universal, além de
espírito pedagógico”.
Não houve sepultamento do corpo de Hernando. Ele doou seu corpo a uma faculdade de medicina.
Em
www.manuelcalvohernando.es podem ser lidos alguns de seus artigos, como o “Decálogo do Divulgador da Ciência” por ele criado.
Julio Abramczyk, médico formado pela Escola Paulista
de Medicina/Unifesp, faz parte do corpo clínico do Hospital Santa
Catarina, onde foi diretor-clínico. Na
Folha desde 1960, já publicou mais de 2.500 artigos. Escreve aos sábados na seção ‘Saúde’.